sexta-feira, 24 de outubro de 2008

MARIA-NÃO-SE-PODE
















(Lenda Oeirense, extraído de O COMETA-Texto escrito por Bujyja Brito).

Há muito tempo passado dizia-se em Oeiras a lenda que tem por nome MARIA-NÃO-SE-PODE. A minha avó Umbelina contará-a para os filhos e netos, - faz anos-, e aprendera-a de uma narradora de estórias fantasiadas, que outra pessoa não era senão sua genitora Carolina. A lenda desde 1845 que era conhecida dos habitantes da cidade.
A imaginação do povo da antiga metrópole piauiense era rica em acreditanças, e, consequentemente, em aceitar o aparecimento de duendes, gnomos e fantasmas, tudo isso fazendo parte da vida folclórica da cidade. Esses duendes, gnomos e fantasmas não eram mais do que fetiches metamorfósicos, contidos no fundo da alma popular, que do índio herdou o medo, do português a fertilidade imaginosa e do negro o misticismo.
Há gente que afirma categoricamente ter visto de perto, ou melhor, a poucos passos de frente, a MARIA-NÃO-SE-PODE, que é descrita deste modo sucinto: uma mulher alta e fina, tão fina que se torna uma espécie de vara-pau, que traja vestido branco e longo, tão longo que arrasta no chão, de voz cavernosa, tão cavernosa que parece vinda de outro mundo, dado o som expelido e a pronúncia dissonante, que perambula nos lugares soturnos, tão soturnos como os ermos das matas, e que fala, finalmente pedindo cigarros para satisfazer o vício de fumar que possui nos notâmbulos que andará nas caladas das noites.
Vários boêmios atestam que eles mesmos chegaram a vê-la, mantendo medrosamente conversação, nestes pontos ou logradouros no centro urbano da sede municipal: Estrada do carcará, Praça da matriz (N.S. da Vitória), Rua do Tanguitá, Alto do Rosário, e Ponte Grande.
Quem, repelindo o próprio medo, dirigir-lhe palavras fazendo-lhes algumas perguntas ou procurando pegar-lhe a mão que ela sempre estica ou recua, recebe a expressão Não se pode daí ela ficar conhecida com a denominação NÃO-SE-PODE, ou melhor, de MARIA-NÃO-SE-PODE, pois há muita gente que acredita que ela seja um ente humano, dada a conformação física com que se apresenta o espectro ou vulto.
O moral da lenda está nesse ponto: fazer desaparecer a classe dos boêmios, que amedrontados pelo espectro, deviam decidir-se para abominar a vagabundagem noturna.
As mulheres casadas e as mães de família, as primeiras enciumadas dos maridos e as segundas por cuidados maternais em favor dos filhos adultos e solteiros, contribuíam com alta defesa, para a criação da lenda...
Nas fotos, homenagem ao centenário da morte de Bujyja Britto, em Oeiras.
Na primeira foto a professora Sebastiana Tapety fala sobre a vida e obra de Bujyja Britto.
Na segunda foto, convidados para a homenagem.
Na terceira e última foto, alunos do Paulo Freire com a dança Miridã.

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